7 sinais de que a Pesquisa em UX está “ruinzinha”*

Lara Habib
5 min readDec 30, 2021

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*Do livro Think Like a UX Researcher

Nós lemos muito sobre como fazer pesquisa (inclusive tem um texto meu aqui com esse tema 😂), quais métodos usar e quando, cases de sucesso, mas … Como saber se estamos entregando com qualidade e efeito? Como ser mais efetivo e gerar impacto? E ainda, pra mim a mais importante das perguntas, como REFLETIR sinceramente sobre nosso trabalho, livre dos vieses (nossas tendências inconscientes e recorrrentes, resultantes de nossos aprendizados e crenças)?

#pratodosverem: foto com meu notebook, meu caderno com anotações, canetas por cima e o livro que usei para escrever este texto, o Think Like a UX Researcher

No livro Think Like a UX Researcher, de David Travis e Philip Hodgson, achei uma lista bem bacana que me fez pensar sobre esses temas, me questionar e me avaliar. O resultado deste texto é uma tradução livre desta lista, que gostaria de compartilhar com vocês. Espero que gostem!

7 sinais de uma pesquisa em UX de qualidade duvidosa

1.Credulidade extrema (quase uma inocência 😅)
Assim … acreditar no que as pessoas dizem, sem provas. Aqui entra aquele tema máximo que é regra pros pesquisadores …

Não pergunte para as pessoas o que elas querem ou precisam. O que as pessoas falam, geralmente não é o que fazem, e principalmente não é o que elas farão.

Ao invés disso, transporte as pessoas para o futuro com protótipos ou observe como resolvem seus problemas no agora.

2. Dogmas (verdades absolutas sem provas requeridas)
Acreditar que um determinado método de pesquisa é O melhor.
Ex. usar testes pra tudo, só entrevistas pra tudo, ou achar que surveys são mais confiáveis que outros métodos de pesquisa.

Avalie qual e quais são os melhores métodos que combinados trarão melhores resultados para seu objetivo de pesquisa. Ex. Visita em campo + survey para encontrar lacunas entre o que as pessoas fazem e o que dizem fazer.

Valide os achados com triangulação, combinando diferentes métodos para estudar o mesmo assunto, assim podendo cobrir deficiências da investigação.

As melhores pesquisas combinam quantitativo e qualitativo. Lembrando que quanti diz o que as pessoas fazem e quali nos diz as motivações e razões.

3. Vieses
Pensamentos pré concebidos, que podem ser nossos, do time, dos stakeholders …

É bom lembrar que nosso trabalho não é convencer alguém (o usuário, o cliente) a usar nossos serviços e produtos, nosso trabalho é trazer a verdade … algumas vezes trazemos verdades que são difíceis de ouvir. Devemos ajudar as pessoas a entender os dados e os fatos, e não somente dizer o que querem ouvir.

Sabemos o quanto é difícil quando trazemos constatações que vão contra ideias que estão enraizadas. Façamos as perguntas corretas, inclusive para nossos gerentes e times.

Aqui uma reflexão: como podemos compartilhar “má notícias” e ajudar a trazer a mentalidade de aprender com nossos erros para os times para os quais trabalhamos?

4. Obscurantismo
Impedir que fatos e assuntos se tornem conhecidos. Um exemplo? Manter os achados ou informações de pesquisa dentro da cabeça de uma pessoa. Não compartilhar … Geralmente em pesquisa, uma pessoa é responsável por ser porta voz das necessidades dos usuários, o expert!

Isso não é bacana por dois motivos:
- essa pessoa geralmente não sabe todas as respostas (ainda bem!);
- isso encoraja o time a delegar toda responsabilidade de entender os usuários para uma pessoa.

Pesquisas mostram que os times mais efetivos gastam pelo menos 2 horas a cada 6 semanas observando usuários. Encorajem seus times a observar os usuários. UX Research deve ser parte da cultura do time.

5. Preguiça
Isso mesmo meu povo, pre-gui-ça. Aquele lance de usar e reciclar pesquisas antigas, como se pudéssemos dar um copiar e colar pesquisas antigas em todo projeto novo.

O exemplo favorito dos autores: PERSONAS.

Os autores compartilham da opinião que: criar personas não deve ser o objetivo, o objetivo deve ser entender necessidades chave e motivações dos usuários (morri de amor aqui ❤️. Minhas personas tem tarefas, necessidades e ganhos, eu as atualizo a cada nova interação com o público alvo).

A meta é clara, fazer o time conhecer os usuários tão bem que personas não sejam necessárias (isso postei e saí correndo 🤣. Comentários? Opiniões?).

Usar pesquisas antigas não é iterar e nem aprender.

6. A pesquisa vaga e cheia de incertezas
Geralmente ocorre quando o time falha em focar em um tópico ou questão específica e tenta responder várias questões de uma vez só. Pode acontecer porque as pesquisas são feitas só ocasionalmente, aí então haverão muitas questões para serem respondidas ao mesmo tempo.

Daí aprende-se um pouquinho sobre um tantão de assuntos.

Ao invés disso tente aprender muito sobre um pouquinho. Foque em uma pergunta específica (todo o time deve concordar com ela, você pode fazer dinâmicas com eles para elege-la) e peça ao time para imaginar:
- o que de melhor e mais acionável o resultado de pesquisa pode trazer;
-o que a pesquisa diria ao time;
-como o time usaria essa pesquisa.

7. Orgulho e prepotência
Infelizmente bem pouca gente é fascinada por gráficos e dados como os pesquisadores são (morri 😜 ). O problema com o excesso de dados e informações, é que as pessoas não leem. Elas veem e te parabenizam pela extensão da pesquisa e reconhecem sua inteligência, mas não absorvem o conteúdo.

Nosso desafio é transformar todos os dados que coletamos em informações, e todas essas informações em insights — “digeríveis” de preferência.

Nós sabemos que não precisamos de análises extensas para encontrar os principais problemas. Os relatórios completos servirão para o momento que precisaremos nos aprofundar nos detalhes desses problemas principais. Os achados críticos precisam aparecer rapidamente para que o ciclo construir — medir — aprender seja executado com rapidez e continue acontecendo muitas vezes.

Regra geral: se as pessoas precisam virar a página, o relatório está longo. Sugestões:
- Jornada do usuário (resumidas, presumo eu);
-Personas;
-Criar dashboards de testes de usabilidade.

O grande design não está dentro da cabeça dos designers (na nossa). Ele está dentro da cabeça dos seus usuários. Acessamos o grande design, fazendo boa pesquisa … aquela pesquisa que gera insights acionáveis e testáveis às necessidades dos usuários (reais).

Obrigada por ter lido até aqui.🥰 Espero escrever mais em 2022 🎇 :)

Gostaria de ter escrito mais. Fiz o que pude, respeitando minha realidade destes tempos. Agradeço por ter passado mais um ano com saúde, casa e comida, ao lado daqueles que amo. Desejo que 2022 seja um ano de saúde e paz pra mim, pra você e pra todos nós.

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Lara Habib

Curiosa, sonhadora, voraz por mais um curso ou uma nova história. A felicidade de trabalhar com o que amo, com propósito. Design c/ alma. Fazer e contribuir S2